Conjuntura Internacional, por Cezar Roedel

Peru

Por Cezar Roedel
Consultor de Relações Internacionais
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Desde a eleição que levou Pedro Castillo ao poder, em margem apertadíssima contra Keiko Fujimori, já se sabia que havia um desastre anunciado, de um governante despreparado que chegava ao poder, após um pleito extremamente polarizado. Na época, Fujimori chegou a questionar o resultado das eleições, aceitando-as após um mês do segundo turno. Castillo era conhecido por suas manifestações polêmicas, inclusive sobre o eventual fechamento do Congresso no país, caso os parlamentares não aceitassem as suas ideias.

As crises não demoraram para chegar, quando no governo. Após dois meses da posse, com um parlamento de maioria oposicionista, o primeiro-ministro e todo o gabinete ministerial renunciavam aos cargos. O primeiro pedido de impeachment chegou no final de 2021, mas foi demovido. Dois outros pedidos se juntaram, sendo o último deles aceito (por incapacidade moral), retirando da presidência o Castillo, após ele ter anunciado o seu golpe de Estado. Nos últimos dias, o presidente anunciou a dissolução do Congresso, solicitando novas eleições, em resposta ao último pedido de impeachment. No seu comunicado de dissolução do Congresso, Castillo também resolveu impor um governo de exceção, declarando estado de emergência. A façanha não durou mais do que duas horas. Os parlamentares ignoraram solenemente o anúncio de dissolução e as Forças Armadas não apoiaram o golpe de Castillo. A Suprema Corte declarou a manobra como golpe de Estado e o Congresso convocou a vice-presidente, Dina Boluarte, para ser empossada como presidente. Enquanto se preparava para sair do Palácio do Governo, Castillo foi preso. A detenção se justificou a partir do Código Penal peruano, por suposto crime de rebelião.

Castillo, ex-professor e sindicalista, ficou conhecido pelos debates durante a eleição e acabou ganhando notoriedade a partir de suas ideias polêmicas. Durante o seu governo, teve de reconfigurar o seu gabinete por cerca de quatro vezes, levando o país a uma crise de instabilidade. Boluarte, a nova presidente peruana, tem 60 anos e tornou-se a primeira presidente mulher no país, também acumulando a direção do Ministério do Desenvolvimento no Peru. No seu primeiro discurso, enfatizou os aspectos econômicos e o combate à corrupção. Ela tentou, por inúmeras vezes, concorrer a cargos políticos, sem sucesso. Ela foi expulsa do partido em que perfilava, o Perú Libre, agremiação de extrema-esquerda, após ter anunciado que nunca havia apoiado as ideias do partido. Ela assume um país altamente instável.

O episódio é um claro sinal do que as esquerdas podem produzir nas democracias latino-americanas. Um estrago que durou não apenas um dia, mas se estendeu desde a tomada de poder por Castillo, colocando o país em um risco considerável. Tudo isso pelo medo de um tiranete perder o seu poder, levando uma sociedade inteira para o buraco, em nome de ideologias flagrantemente fracassadas. Boluarte é a sexta pessoa a assumir a liderança do país desde 2018, quando ocorreu a renúncia de Pablo Kuczynski. Pouco se sabe sobre o futuro do Peru, tudo dependerá de como as forças políticas irão se ajustar e se haverá tranquilidade para governar, com novos pedidos de impeachment e uma instabilidade significativa. A reprovação popular ao parlamento chega em 86% e o futuro é incerto.​

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